To be leaf



Título: To be leaf
Autor: T. Angel
Ano: 2013
Integrantes: T. Angel, Jorge Peña e Luciano Iritsu
Procedimentos: Thiago Almeida, Emilio Gonzalez.
Suporte: Fernando Aguiar, Thiago Almeida e Emilio Gonzalez.
Duração: 40 minutos
Descrição da performance:

“O salto é grande, mas o tempo é um tecido invisível em que se pode bordar tudo, uma flor, um pássaro, uma dama, um castelo, um túmulo. Também se pode bordar nada. Nada em cima de invisível é a mais sutil obra deste mundo, e acaso do outro.”
Machado de Assis
Um pequeno delírio sobre a humanidade ou a sua perda.
Uma ode aos inumanos, as minorias, aos abandonados e aos invisíveis.

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 Fotos: Patricia Alegria Ramirez



































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Tuas raízes atravessaram o meu peito

 (…) O corpo caído ao chão, tão entregue feito fio de cabelo ao vento, me trouxe um sentimento de pesar. As pessoas em torno de nós passavam e ignoravam a situação. Havia uma pessoa caída ao chão. Uma pessoa ao chão. Uma pessoa. Um – único – chão.
O inverno havia derrubado muitas folhas das árvores. Mas não saberia dizer quando foi que caiu a humanidade das pessoas.
O inverno era frio. Mas aquelas pessoas eram glacialmente incomparáveis no quesito frieza.
Naquele momento eu desisti do mundo. Talvez eu já tivesse entregado os pontos – bem – antes. Em um momento haviam centenas de cartas de esperança em minhas mãos e noutro haviam galhos secos. Eu próprio me tornava uma árvore que já nasceu envelhecida e morta.
Ninguém percebeu o corpo ao chão. Tão pouco a minha metamorfose em árvore, que foi seguida de minha morte. Assim eu pensava que fosse…
O corpo caído ao chão, assistia a minha transformação e via nela uma possibilidade de existir. Eu, cego de decepção, não vi o brilho no olhar daquele sujeito.  Talvez eu tenha perdido uma das visões mais bonitas e sagradas de uma vida inteira. Os olhos do renascimento.
Ainda que dentro de um ambiente de corações gélidos, o olhar de alguém que volta a acreditar é de tal qual beleza. feito aurora boreal.
Foi quando cerrei as minhas pálpebras e suspirei profundamente. Tentei recriar em minha imaginação um simulacro daquilo que havia perdido. A beleza me consumia.
Ao abrir meus olhos me deparei com muitas folhas secas ao chão. Como se aqueles segundos em que mergulhei em mim, tivessem durado décadas. Passaram-se invernos, invernos e inúmeros invernos. Eles não duram para sempre.
Não havia mais corpo ao chão. Era o ar a nova morada do sujeito. Havia um novo tipo de vida ali. Muito peculiar eu diria. Ele era tão leve que era capaz de voar.
Eu, feito árvore seca que havia me tornado, apenas assistia aquela dança no ar ou poesia dentro da minha cabeça. Tudo isso me dizia eloquentemente – em um silêncio surdo – que não importava o quanto o coração das pessoas entejam congelados e duros. Não importava o quanto elas nos ignoravam. Não importava a quantidade de vezes que iriam nos jogar ao chão e pisar sobre nossas cabeças. Nada disso importava. A verdade era que uma hora ou outra, quando ninguém ver ou perceber, os invernos passarão e um dia os corações estarão quentes novamente. Nesse dia teremos mais mãos estendidas para ajudar do que para punir. Por fim, nunca pessoas iriam coisificar pessoas ao ponto de fazê-las de degraus ao chão.
Nosso sangue, suor e lágrima há de semear esperança para que possamos coexistir. Não falo de uma esperança piegas, mas sim daquela que revoluciona e que pode ser entendida como a semente da resistência e existência. Aprendamos a cultivá-las.
Não há inverno que dure para sempre.
Sejamos folhas. Que vem e que vão. Que se transformam em mansidão em plena conexão com a atmosfera… E com todas as coisas que nem se quer podemos compreender.
Acreditemos.
Thiago Soares
Osasco, 22 de Setembro de 2013.